A
história da polícia no Brasil é um tanto torta: com missão primeira de garantir
a defesa nacional, posteriormente ganhou a função de manter a ordem, que
basicamente passava por tirar de perto dos brancos os negros libertos, os
mestiços – pessoas socialmente desqualificadas que poderiam macular a “sociedade”
da época – e tratar de questões materiais, principalmente a recuperação de
negros escravos que fugiam.
Dada a
ultima função, era muito comum que se contratassem para o ofício os capitães do
mato e os mesmos mestiços que não se queria ver “perambulando” pela rua. Devemos
lembrar que escravos eram vistos não apenas como bem material, mas como escória
social, assim como os capitães do mato, que deles descendiam em geral. Então não
era bom para uma família “de bem” ter um dos seus envolvidos em tal atividade.
No máximo se admitia a função de oficial, que nesta época não colocava o pé na
rua praticamente.
E
porque essa conversa toda? Bem, sem entrarmos na questão atual de racismo,
castas sociais ou qualquer outra de tal monta, foquemos no seguinte:
garantir a ordem publica NUNCA foi atividade honrada neste pais. E certamente
porque lá no início tinha que lidar com tudo que as classes mais altas queriam esconder. Além disso, como já disse, exerciam tal função aqueles que se
sobressaíam da “gentalha”, mas que não deixavam de sê-la.
E isso
perdura até hoje. Constituições, sistemas políticos, alterações sociais... nada
teve a capacidade de alterar a imagem do policial, principalmente o de policia
preventiva. Não é trabalho para os “bem-nascidos”, ainda se pensa. E ainda se
pensa que os policiais são da mesma “laia” daqueles que ameaçam a sociedade. Tudo
bem, existe sempre um controle social na
função de policia, mas nem por isso, hoje, se deve misturar as coisas.
Atualmente em países socialmente mais desenvolvidos, a atividade policial é reconhecida, é
nobre. Não é a mais nobre das profissões, mas fica longe de ser uma vergonha
para a comunidade, ao contrario daqui. E porque? Nesses lugares se reconheceu
que A POLICIA TEM COMO FUNÇÃO PRESERVAR
NOSSA VIDA, NOSSA LIBERDADE, NOSSA INTEGRIDADE E NOSSA PROPRIEDADE. Quer função
mais valiosa que essa, nos proteger?
Mas
não, ainda se prefere tratar como molambos, como capangas maltrapilhos que
existem apenas para nos servir quando precisamos. E maltrapilhos não precisam
ser bem pagos, bem preparados. Basta um prato de comida e algumas doses de
cachaça.
Porém
os tempos são outros. Vivemos uma guerra
no Brasil e está claro que o modelo de policia não funciona, na verdade só nos
põe em risco. E é um ofício de baixo prestígio e baixos salários, atrairá bons profissionais, idealistas, mas vai certamente
atrair pessoas despreparadas e mal intencionadas em maior numero, ou ao menos
será mais fácil o acesso delas. Será que vale o risco? Dar uma arma a alguém
com essa postura é prudente?
Em
2012, cada brasileiro residente no país gastou aproximadamente R$220,00 NO ANO TODO
com segurança pública. Sim, impostos. Mas lhe pergunto: está valendo o investimento
ou você pagaria mais para se sentir mais seguro? Nâo seria melhor reconhecer que as Policias não lidam com o “lixo humano”, mas, mesmo que em um controle social,
tem como função garantir nossas vidas, o maior valor? Quanto custaria isso para
você?
É hora
de enfrentarmos isso, reconhecermos a falência desse modelo coronel-capanga.
Temos que cobrar uma policia preparada, com alta qualificação, bem remunerada,
estimulada e, principalmente reconhecida. E, no atual estado das coisas, não
adianta esperarmos isso com essa estrutura carcomida há séculos, temos que
inovar. Por isso, além da mudança de mentalidade, a sugestão das
alterações da PEC 51 se fazem necessárias, e, creio, levarão a tal mudança de visão em relação às polícias.