sábado, 15 de fevereiro de 2014

É verdade que a policia só lida com lixo?


                A história da polícia no Brasil é um tanto torta: com missão primeira de garantir a defesa nacional, posteriormente ganhou a função de manter a ordem, que basicamente passava por tirar de perto dos brancos os negros libertos, os mestiços – pessoas socialmente desqualificadas que poderiam macular a “sociedade” da época – e tratar de questões materiais, principalmente a recuperação de negros escravos que fugiam.

                Dada a ultima função, era muito comum que se contratassem para o ofício os capitães do mato e os mesmos mestiços que não se queria ver “perambulando” pela rua. Devemos lembrar que escravos eram vistos não apenas como bem material, mas como escória social, assim como os capitães do mato, que deles descendiam em geral. Então não era bom para uma família “de bem” ter um dos seus envolvidos em tal atividade. No máximo se admitia a função de oficial, que nesta época não colocava o pé na rua praticamente.

                E porque essa conversa toda? Bem, sem entrarmos na questão atual de racismo, castas sociais ou qualquer outra de tal monta, foquemos no seguinte: garantir a ordem publica NUNCA foi atividade honrada neste pais. E certamente porque lá no início tinha que lidar com tudo que as classes mais altas queriam esconder. Além disso, como já disse, exerciam tal função aqueles que se sobressaíam da “gentalha”, mas que não deixavam de sê-la.

                E isso perdura até hoje. Constituições, sistemas políticos, alterações sociais... nada teve a capacidade de alterar a imagem do policial, principalmente o de policia preventiva. Não é trabalho para os “bem-nascidos”, ainda se pensa. E ainda se pensa que os policiais são da mesma “laia” daqueles que ameaçam a sociedade. Tudo bem,  existe sempre um controle social na função de policia, mas nem por isso, hoje, se deve misturar as coisas.

                Atualmente em países socialmente mais desenvolvidos, a atividade policial é reconhecida, é nobre. Não é a mais nobre das profissões, mas fica longe de ser uma vergonha para a comunidade, ao contrario daqui. E porque? Nesses lugares se reconheceu que  A POLICIA TEM COMO FUNÇÃO PRESERVAR NOSSA VIDA, NOSSA LIBERDADE, NOSSA INTEGRIDADE E NOSSA PROPRIEDADE. Quer função mais valiosa que essa, nos proteger?

                Mas não, ainda se prefere tratar como molambos, como capangas maltrapilhos que existem apenas para nos servir quando precisamos. E maltrapilhos não precisam ser bem pagos, bem preparados. Basta um prato de comida e algumas doses de cachaça.

                Porém os tempos são outros.  Vivemos uma guerra no Brasil e está claro que o modelo de policia não funciona, na verdade só nos põe em risco. E é um ofício de baixo prestígio e baixos salários, atrairá bons  profissionais, idealistas, mas vai certamente atrair pessoas despreparadas e mal intencionadas em maior numero, ou ao menos será mais fácil o acesso delas. Será que vale o risco? Dar uma arma a alguém com essa postura é prudente?

                Em 2012, cada brasileiro residente no país gastou aproximadamente R$220,00 NO ANO TODO com segurança pública. Sim, impostos. Mas lhe pergunto: está valendo o investimento ou você pagaria mais para se sentir mais seguro?  Nâo seria melhor reconhecer que as Policias não lidam com o “lixo humano”, mas, mesmo que em um controle social, tem como função garantir nossas vidas, o maior valor? Quanto custaria isso para você?


                É hora de enfrentarmos isso, reconhecermos a falência desse modelo coronel-capanga. Temos que cobrar uma policia preparada, com alta qualificação, bem remunerada, estimulada e, principalmente reconhecida. E, no atual estado das coisas, não adianta esperarmos isso com essa estrutura carcomida há séculos, temos que inovar. Por isso, além da mudança de mentalidade, a sugestão das alterações da PEC 51 se fazem necessárias, e, creio, levarão a tal mudança de visão em relação às polícias.