Um
dos aspectos mais polêmicos da PEC 51 é a estruturação da polícia como carreira
policial única. E o que seria isso?
Carreira
no serviço público seria a progressão, em decorrência do tempo ou desempenho,
para funções mais complexas e de maior responsabilidade durante a vida
profissional. E a carreira é formada por cargos, que são o conjunto de
responsabilidades de determinada função.
Para
facilitar, exemplifico a carreira de Oficial das Forças Armadas: o cidadão faz
um concurso público para Oficial. Aprovado, é nomeado no cargo de Aspirante,
que tem como função ser aluno do curso de formação. Formado, ele é nomeado para
o cargo de 2º tenente, que tem como função, a grosso modo, comandar pequenos
grupos e participar de algumas instruções. Em seguida é nomeado 1º tenente, que
passa a ter grupos maiores para controlar e instruções mais complexas. Depois,
nomeado capitão que tem mais funções administrativas e gerenciais, e assim
segue.
Então,
quando se fala em uma CARREIRA POLICIAL, significa que o sujeito faz o concurso
para a CARREIRA, ocupando a base da estrutura. De acordo com seu desempenho,
tempo e aproveitamento de cursos de médio e longo prazo de capacitação, devem
subir ao novo cargo, com mais tarefas a cumprir e maior responsabilidade.
Atividades não afeitas a policiais, como as funções de cuidar do funcionamento,
burocracia, pessoal e outras atividades da instituição, devem ter uma carreira
administrativa também bem estruturada.
A
vantagem deste sistema é que obriga o servidor a se capacitar ao longo de sua
carreira, permitindo que se envolva em atividade onde melhor será aproveitado.
Bem diferente de como (não) funcionam as polícias hoje.
Atualmente
o cidadão, ao fazer um concurso, decide para que casta fará (ou poderá fazer) o
concurso: a nobreza (delegados e oficiais) ou vassalagem (policiais). A partir
daí, enquanto um é obrigado a trabalhar como louco, com escalas absurdas e
complementar renda com “bicos”, outro tem bons salários e, sem muito
esforço, se vêem envolvidos em assuntos da alta política. Uns tem perspectiva de
crescimento sem serem policiais, outros são policiais sem perspectiva de
crescimento.
E
então surge a mágica: feito o concurso público, não há COBRANÇA para a
qualificação – ou ao menos a manutenção – da qualidade do servidor. Na policia
não há, por exemplo, nenhum tipo de avaliação técnica e psicológica para aferir
se o policial tem condições de portar e utilizar, quando requerida, a arma de
fogo que muitas vezes porta. Um policial pode passar 30 anos sendo considerado
capacitado em armas apenas por conta do curso de formação na
admissão. Coisas de Brasil.
Nos
EUA, a cada 6 meses os instrutores de tiros são avaliados. Os policias não
instrutores, anualmente. Na Alemanha, a cada etapa na carreira o policial
precisa fazer um novo curso e somente progride se tiver aproveitamento, indo de
técnico ao doutorado, dentro da própria instituição em curso específico de
policia. No Brasil, basta o concurso e no máximo 180 dias de curso de formação (alguns
duram 45 dias!) durante a vida do profissional. Ele só se qualifica por
iniciativa própria, sem diferença para sua carreira.
O
concurso público é a forma mais democrática para se ENTRAR no serviço público.
É ferramenta eficiente para verificar quem, naquele momento, tem o melhor
preparo para assumir a função. Digo entrar porque trabalhar e se preparar para
concursos com maiores salários tornam-se incompatíveis no caso do policial: ou
ele transforma o salário do cargo público em bolsa de estudos, praticamente
parando de produzir, ou não passará. E como policias são até estimulados a
fazerem “bico”em suas (poucas) folgas, ou trabalham e não estudam ou estudam e
não trabalham.
É
perceptível que servidores públicos, principalmente em cargos de maior
influência, são tratados e se portam como se adquirissem um título de nobreza,
que não precisam de capacitação contínua. E pior: que a Administração Publica não precisa
evoluir, reconhecer que determinada organização precisa de reformulação e maior
capacitação dos servidores, tanto na entrada (em geral exigência de maiores
níveis de escolaridade) quanto durante sua vida profissional. O concurso não
passa de uma fotografia da vida profissional do servidor, quando deveria ser a
abertura de um filme que pode durar 35 anos. Mas parece uma ameaça às castas, interessadas em status.
Em
suma: carreira única proposta na PEC 51 prevê alterações nas atividades e
atribuições de TODAS as carreiras policiais e de seus cargos, inclusive com a
extinção de alguns deles e aglutinação de outros. Não é fim do concurso público
nem “trem da alegria” (quando um cargo se torna outro, incompatível, sem
concurso público, geralmente para aumento da remuneração): é CRIAR uma
VERDADEIRA CARREIRA POLICIAL.
Desta forma o policial se sentirá MOTIVADO a
dedicar-se à sua carreira, pois sabe que existe uma perspectiva de avanço, e para progredir será obrigado a, NO
MINIMO, se capacitar. E se bem remunerado poderá largar a atividade “bico” e
cuidar da nossa segurança de fato, não apenas nos jornais e índices governamentais.
Particularmente acho que o modelo atual não funciona e tem que mudar. Radicalmente.
Obs.: justiça seja feita. Ao escrever omiti que o Curso de Formação do Oficial de Polícia Militar, em geral, é um curso superior em Segurança Publica, com duração média de 4 anos. Os prazos se referem aos demais cargos existentes nas estruturas das polícias.
Obs.: justiça seja feita. Ao escrever omiti que o Curso de Formação do Oficial de Polícia Militar, em geral, é um curso superior em Segurança Publica, com duração média de 4 anos. Os prazos se referem aos demais cargos existentes nas estruturas das polícias.